Nhande Reko (Nosso Modo De Ser)

Nhande Reko (Nosso Modo De Ser)

Exposições


de 04 até 20 de outubro de 2022

Galeria Virtual Arttere

Visite a Exposição:
https://www.arttere.com.br/galeria/index_nhandereko.html

Nhande Reko (“nosso modo de ser” em guarani) designa a maneira tradicional Guarani de manejar o viver. Esse termo possui uma aprimorada semântica, similar à de Teko Porã (“bonita maneira de ser” em guarani), Sumak Kawsay (“viver em plenitude” em kichwa) e Suma Qamaña (“o bom conviver” em aimara). Ao condizer, respetivamente, a essas culturas indígenas, que desenvolvem o viver com formas integradas à natureza, esses conceitos podem hoje ser sumarizados pelo Bem Viver, paradigma vislumbrado como uma opção a destituir o do Antropocentrismo. Esse último, ao guiar-se pela ilusão de estar o homem no centro do mundo, elevou a razão sobre os outros sentidos e a si sobre as outras gentes, espécies e entes, corrompendo a perceção de indivíduos enquanto parte da Pachamama (Mãe Terra).

Por isso, o título Nhande Reko versa sobre pessoas que articulam a realidade com meios que prezam pelo bem-estar comum, sob um entendimento de comunidade que abarca tudo o que existe. Já a discriminada tradução ao português, Nosso Modo De Ser, lança-nos, neste contexto expositivo, uma pergunta: qual é o nosso modo de ser? Ou, então: é esse o modo de ser que queremos para nós? Ou, ainda: quem somos nós?

Numa série de colagens digitais, a suplantação da aversão entre “nós e os outros”, pelo “nós”, é ensaiada na metamorfose do Homem Vitruviano, emblema da civilização ocidental, num jaguar, felino que povoa diversas cosmovisões ameríndias. Esse conjunto parece uma sequência de momentos, que conjuram um ato performativo de devir-bicho. Além de incitar ao questionamento sobre a animalidade e a monstruosidade da espécie humana, tanto em sentidos pejorativos quanto em desejáveis, o principal rival ancestral dos povos que vivem na floresta –o jaguar, isto é, a onça– é convocado como medida extrema para a luta: contra a indiferença apática, o descaso aterrador, a ambição desenfreada, a violência desmedida, o ego inflado.

Com isso, aqueles que mais tememos dentro do nosso mundo são bem-vindos, pois, ao pertencerem ao nosso mundo, não o destroem. O homem branco, em termos genéricos, ao segregar-se do nosso mundo, isolou-se, inventou um mundo gerido por uma ficção desprovida de carne –o capital– e, guiando-se por valores abstratos e devastando o vivo e o concreto que viu como alheios, extermina do planeta outras formas de viver e a liberdade de ser. Um indício disso consta no vídeo apresentado nesta mostra, já que, ao solicitar-nos um minuto de silêncio, entorpece-nos com estímulos excessivos –pelo que, subliminares– que parecem não ter fim. Essa tensão, entre a violência e a necessidade de pausa –e paz– para processá-la, emula a situação vivida pelos Guarani-Kaiowá, povos originários que, no estado de Mato Grosso do Sul, são tidos como os de mais trágica situação no Brasil.

Em Nhande Reko (Nosso Modo De Ser), a pulsão do bem-viver choca-se com esquemas geométricos e cartesianos que buscam moldar as existências e as experiências, comprimindo-as em espaços circunscritos. Nela vibra um exercício político, que ecoa o do capitão da assembleia Guarani: ser forte, não por impor um consenso, se não que por acionar aquele advindo da comunidade, da aldeia. Dito isso, talvez reste disso, como substrato, a ideia: “nós somos a aldeia”. Mesmo sem resolver o nosso problemático contexto –o nosso complexo impasse–, intui-se aqui, como via para o estabelecimento de elos em reciprocidade, o sentimento de pertença.

Artista convidada: Letícia Larín

 
Clique aqui para visitar a exposição


Conheça também as Exposições Anteriores

 
GALERIA DE VíDEO
Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.
OK