Paisagens Desidratadas
de 23 de setembro de 2021 até 21 de outubro de 2021
Galeria Virtual Arttere
Visite a exposição:
https://www.arttere.com.br/galeria/index_paisagensdesidratadas.html
As fotografias que temos a honra de aqui expor estão reunidas no fotolivro “
Paisagens Desidratadas: ensaio sobre a desindustrialização”, publicado em junho de 2021. Elas registram os sinais do processo de fechamento de fábricas ao longo da antiga
São Paulo Railway – estrutura que concorreu para a industrialização do Estado no século XX.
As imagens registram os sinais do processo de desindustrialização ao longo das linhas 7 e 10 da
CPTM, antiga São Paulo Railway.
Os brasileiros assistiram à grande transformação social causada pelo longo e demorado processo de industrialização, encetado com a chegada da Família Real no Brasil (1808) e consolidado no Governo de Getúlio Vargas (1930). As progressivas modernizações econômicas e a Independência repercutiram no plano superestrutural, intelectual e imagético, com produções que reclamavam o gentílico “brasileiras”, tanto pela origem quanto pelos assuntos. Um dos símbolos do progresso foi as Estradas de Ferro que passaram a ser edificadas na metade do século XIX.
A fotografia, desprovida da “aura da obra de arte”, que também nasce da Revolução Industrial, desempenhou relevante papel com a produção de imagens do surgimento do urbanismo capitalista em meio ao ruralismo semifeudal. A fotografia nacional registra a moda, os automóveis, os telefones, a arquitetura modernista, os arranha céus. As câmeras passam a ousar e a fazer experimentações. A arte e a cultura nacional dialogam com as produções internacionais. É nesse contexto que surge o Foto Cine Clube Bandeirante no século XX.
A ascensão da indústria nacional teve seu apogeu na década de 1980, quando, em função de questões econômicas de ordem interna (privatizações, política de estabilização monetária etc.) e externa (globalização, divisão internacional do trabalho etc.), a participação do setor secundário no PIB engolfa e nos anos seguintes se inicia um processo de desindustrialização nas décadas seguintes.
Com o encerramento de atividades produtivas de centenas de empresas, a desmobilização de galpões fabris, o aumento do setor terciário, a conversão de regiões produtivas em cidades dormitório etc., a paisagem urbana do que foi o maior polo industrial da América Latina, a região da Grande São Paulo, é significativamente modificada.
O fenômeno não é tão simples, dado que parte desse movimento ocorre pela procura de empresas por novas regiões onde o custo de produção seja menor. Um processo de desconcentração – como já ocorrera outrora em São Paulo. Muitas empresas mudam-se para o interior do Estado ou para outras regiões do país.
Apesar disso, a redução das indústrias no Brasil é irrefragável – como vem sendo alertado pela FIESP e por especialistas – e a desindustrialização da região do ABC uma dura realidade para os habitantes da região.
Assim, considerando a relação entre estrutura e superestrutura, surge a pergunta: a produção fotográfica tem acompanhado esse movimento de desindustrialização assim como registrou o surgimento da industrial no Brasil?
As fotografias de “Paisagens Desidratadas: ensaio sobre a desindustrialização”, ora exibidas, constituem uma módica contribuição para esse debate.
Boa exposição a todos e todas.
Fotos e apresentação de
Hugo Ribeiro