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12/06/1979 (Brasil / São Paulo / São João da Boa Vista)
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Meu nome é Olegário, e venho há anos trilhando uma jornada artística e existencial marcada pela observação profunda do efêmero, do ruído e do invisível. Meu trabalho transita entre técnicas como frottage, pintura, assemblagem e instalação, com uma escuta atenta aos ecos do tempo e das ruas. Cada pedaço de cerâmica, cada caco de vidro ou fragmento de construção que recolho se transforma, não apenas em material, mas em memória, discurso e resistência.

Criei a exposição Impermanência(s) como resposta poética a um tempo que se desfaz diante dos nossos olhos. Os frottages que a compõem são não apenas registros físicos de superfícies, mas vestígios de um mundo em erosão — espiritual, político e ambiental. A série surgiu entre deslocamentos, silenciosas orações urbanas e caminhadas que se tornaram atos performáticos. A exposição abriu-se com o conceito de “eco”: fragmentos visuais, sonoros e textuais que ressoam em quem passa por eles. Parte dessa proposta envolveu QR codes com trilhas sonoras e textos que acompanhavam o visitante como rastros digitais de uma existência maior.

Minha relação com a arte se desenvolve entre o gesto intuitivo e o pensamento conceitual. Em minha mais recente série — Cadência dos Fragmentos — os frottages sofreram cortes e transformações. Aquilo que nasceu no papel ganhou corpo em tecidos, mantos, adornos e esculturas. Materiais como algodão cru e toalhas de mesa plásticas baratas se tornaram base para processos que envolveram action painting e dripping, num diálogo direto com Jackson Pollock, mas também com a precariedade urbana brasileira. O excesso foi, por vezes, deliberado. O peso das camadas e dos objetos — brinquedos, bijuterias, cacos e retalhos — tornou visível a sobrecarga simbólica que carregamos diariamente.

A performance, a instalação e a presença do corpo também atravessam minha prática. Referencio nomes como Arthur Bispo do Rosário, cuja poética do delírio e da catalogação do mundo me inspira a compor mantos que são, ao mesmo tempo, vestes e arquivos. Também mantenho afinidade com o conceito de objet trouvé, incorporando ao meu trabalho tudo aquilo que é descartado, esquecido ou marginal. Como Joseph Beuys afirmou certa vez, “todo homem é um artista”; e eu acrescentaria: todo fragmento é uma história à espera de ser escutada.

Meus interesses se estendem à música — da música concreta à trilha sonora de Clube da Luta, Uma Laranja Mecânica, Os Mutantes, Rita Lee e Jim Morrison. Cada criação é acompanhada por sons que conduzem meus gestos e pensamentos. Além disso, minha fascinação por obras cinematográficas como Eu, Robô, Minority Report, THX 1138 e O Homem Bicentenário revela um desejo paradoxal: anseio por um futuro seguro e equilibrado, mesmo sabendo que ele pode custar parte da nossa liberdade mais profunda.

Hoje, ao estudar para um concurso público, reencontro a disciplina que a arte sempre exigiu de mim — mas por outros meios. A lucidez exigida por esse processo se soma ao delírio criativo que me move. Talvez, entre leis e pincéis, entre códigos e ruídos urbanos, eu encontre um novo ponto de equilíbrio — entre o que sonhei e o que é possível realizar.

Porque, no fim, como aprendi em minhas andanças, é entre os fragmentos que o todo se revela. E entre as impermanências que nasce a permanência do gesto.

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