Um pessegueiro esquecido ainda assombra as noites da minha infância, assim como um itinerário de mangueiras, abacateiros, goiabeiras, tangerinas, cafezais, milharais, triângulos desenhados na terra vermelha, peixes e mais peixes, meu avô e suas assombrações, pregos que furaram meu pé, cemitérios, tempestades, luas cheias, olarias, casas abandonadas e o azul que me entristecia por uma saudade não vivida.
Evocações que trafegam por meu percurso artístico ao longo desses anos. Pescarias infinitas no rio de Heráclito, ou no de um monge que virou garça.
Um imaginário da memória e do olhar, na medida em que não se busca reproduzir nada, mas tão somente moldar na própria matéria plástica seus espaços e tempos: é aí que as coisas surgem, ou se mostram desavisadas, sem que se possa definir ao certo aquilo que se encontrou, ou se perdeu.
Chaim Soutine, Georges Rouault ou Iberê Camargo, entre tantos outros, permanecem me instigando ao longo de todos esses anos, dada a reverência que dedico às suas obras; pois, como me dizia um grande professor de História da Arte, a pintura é coisa de velhos. E uma memória infinita também, com cada pintura falando de outras e as referências se multiplicando aqui e ali.
Avesso a sistematizações reducionistas, mas perfeitamente cônscio dos possíveis lugares e filiações do meu trabalho, deixo esta pequena amostra de pinturas e desenhos seguir no encalço do silêncio, que procurei apreender durante esses anos.