Bruno Lopes ou The Queer Narnia (pseudônimo nas redes sociais),
38 anos, nascido na cidade de Passos no estado de Minas Gerais onde atualmente reside.
Identifica-se como uma pessoa não binária e acredita que gênero não é algo biologicamente determinante, se trata apenas de uma ‘’performance’’, algo que é aprendido/apreendido para atender uma padronização e regulamentação do comportamento humano como forma de dominação.
Já viveu em São Paulo Capital e Ribeirão Preto no interior do estado onde realizou suas formações acadêmicas: Graduação em Arquitetura, Urbanismo e Designe (2009), pós-graduado em design Gráfico (2022), atualmente está em andamento a formação em Psicanálise.
Ao longo de toda sua trajetória de vida a arte permeou sua existência como forma de autoconhecimento/reconhecimento e expressão do seu inconsciente e lugar no coletivo. Através do recorte, colagem, sobreposição de imagens, produziu projetos artísticos com sequências de obras que estão relacionadas a um tema ou ação da contemporaneidade. Trata-se de construção de imagens a partir da desconstrução de outras, sendo este seu modo de criação: colagens e pastiches. Seu trabalho é reconhecer o vazio e o cheio encontrados nas mesmas imagens midiáticas, históricas bem como todo tipo de representação imagética da cultura ao longo dos séculos. Procuro o que não está sendo dito de forma explicita, bem como o que foi feito apenas para ser capitado pelo inconsciente, desvelando sua estrutura, desconstruindo-a e reconstruindo novas narrativas. Do sarcasmo, ao escárnio, do poético ao contemplativo, passando pelo chocante e ao perturbador (disturbing), suas obras procuram encontrar o inconsciente individual e/ou coletivo. Tudo aquilo que é sentido, mas não é dito, expressado e é recalcado para não transgredir normas sociais e manter a estrutura sociocultural intacta e de certa forma rígida ou imóvel.
Atualmente todo seu trabalho é construído no meio digital, mas é considerado de linguagem mista por usar de diversos formatos de mídias como ponto de partida (pintura, desenhos, fotografias, ilustrações etc.), porém o resultado final é sempre digital. É o pixel em sua potência atômica, usado como unidade máxima da representação da arte contemporânea.
Eu trabalho com o conjunto de pontos que formam imagens digitais, os agrupo, manipulo, recorto e colo como forma de dar materialidade a construção a partir da desconstrução. No encadeamento e organização desses conjuntos de pixels existente no mundo (imagens existente, midiáticas, históricas e etc.) , meu trabalho procura significantes para os sujeitos ocultos no vazio que encontro nos furos da imagem que descontruo, como meio de dar sentido a uma nova cadeia de significantes dentro de uma nova narrativa visual/digital, elucidando os seus sujeitos até então invisibilizados, tidos como inexistentes. Como se eu estivesse atrás do sujeito do inconsciente na cadeia de significantes, que de certa forma muitos não desejam ver ou querer saber de ‘’o que’’ ou ‘’quem’’ se trata, preferindo a alienação das figuras midiáticas. Imagens manipuladas, distorcidas e projetadas em nós mesmo, por nosso sistema socioeconômico e cultural. São os invisibilizados (as/os) :Ideias e pessoas marginalizadas econômico e socialmente, que são afetadas pela perversidade do sistema socioeconômico vigente, pela ideia atroz e dissimulada de meritocracia burguesa, pela mais valia e relações desiguais e brutais de trabalho, opressão de corpos que não são socialmente aceitos, e que por fim o sufocamento político e cultural da suas existências. É tudo aquilo que costumo chamar de ‘’cegueiras coletivas e seletivas’’. Somos cegos aos que nos convém enquanto sociedade.
’O belo é tudo aquilo que ilumina na nossa alma algo que estava aparentemente encoberto pela hipocrisia e a cegueira seletiva’’. Esta cegueira a qual ‘’recorremos para suprimir nossos desconfortos e angustias’’, diante dos desprazeres do mundo é o que nos impede de avançar adiante para deixarmos para trás um mundo desigual e opressor da diversidade. ‘’ Não entendo o belo em seu sentido estético (representante dos valores socio culturais vigentes) em sua materialidade’’, mas sim como algo que gera faíscas, atritos ou conflitos no inconsciente coletivo. É uma queima que gera calor e humanidade as relações, uma vez que somos obrigados a lidar com tudo o que está sendo reprimido e escamoteado’’ Bruno Lopes
O despertar coletivo para determinados assuntos, através da arte, é um momento de catarse para qualquer artista que procura a sua identidade no mundo. O trabalho de arte em sua opinião tem um papel social e obrigação de expressar seu tempo e espaço, bem como toda a sua dureza e doçura inerente da ambivalência e da liquidez da contemporaneidade. ‘’Somos todos opositores de nós mesmo, de nossos desejos, afirmamos ser aquilo que os outros desejam de nós, como meio de obter amparo e atenção em nossa infinita necessidade de sentir pertencimento a algo, mesmo que isso sacrifique nossa real existência. A arte proporciona essa licença poética para nos municiar de ação e atitude para dizer o que é desejado dizer.
’’é um suspiro de liberdade diante da inevitável prisão da qual estamos todos condenados: o desejo do outro (a sociedade e a cultura capitalista) que nos condiciona e padroniza para melhor nos organizar e manipular dentro dessa cadeia infinita de significantes que sempre tendem a nunca evidenciar o verdadeiro sujeito oculto que a mesma representa. ‘’
Ainda mais quando seu trabalho é figurativo, e usa imagens com seus significantes já existentes para expressar o que não quer ser dito dentro do seio da sociedade, afim de se evitar o desprazer, com isso não lindando com as nossas mazelas existenciais enquanto coletivo. Temas como racismo, LGBTQIAPN+fobia, misoginia, machismo, xenofobia, e todo tipo de discriminação é abordado em suas obras.
Bruno é relativamente um artista digital iniciante, trabalha de forma contínua em meio digital desde 2018. O artista recentemente teve uma sequência de seu trabalho publicado nas mídias do canal de TV ARTE 1 e Arttere. Nunca participou de uma exposição física, mas pretende apresentar seu trabalho fisicamente através da exibição a partir da impressão digital em papel ou acetato translúcido como também em placas de vidro sobrepostas. Como também através de uso de telas digitais de LED como mídia para exposição atrelado ao algum tipo de expressão áudio visual.
‘’Gostaria de explorar mais o campo das artes digitais e suas possibilidades e recursos, usar de seus recursos sinestésicos como meio de atingir o inconsciente coletivo e promover reflexão sobre nós e o nosso meio político e social. Promover a ideia de que viver é fazer política constantemente. É fazer escolhas que não só afetam nosso particular mundo de ‘’Narnia’’ interior, como também a toda uma complexa cadeia de vidas e coletivos em diversas esferas e dimensões que não a nossa. Os sentidos humanos precisam ser tocados ou ativados de alguma forma para que uma mensagem se faça ser escutada, a arte é sempre política, ela expressa nossas origens, nossas verdades internas, nossas incoerências e ambivalências, preconceitos, valores e até mesmo aquilo que que não existe, aquilo que projetamos de nós mesmo, que na realidade é só é uma imagem criada mentalmente do que seríamos e nada mais. A arte é educação e autoconhecimento, ao entrar em contato com nosso subjetivo reunimos todos tipo de conhecimento existente e somos ir atrás dos inexistente. O resultado dessa ação é a impressão de uma mescla de parte de inconsciente e parte inconsciente, de parte do ‘’eu’’ e aquilo que é o ‘’outro’’ seja ele os sujeitos (indivíduos) ou a sociedade como um todo. Algo que apenas a introspecção inerente ao trabalho artístico, juntamente aos estudos e explorações de referenciais teóricos e o trabalho laboral continuado da arte, podem proporcionar para os que dedicam a ela seu tempo e força vital .’’Bruno Lopes
Em uma sociedade de consumo onde para existir precisamos consumir o que nos é imposto como desejo, os que não entram nessa cadeia de significantes para o capitalismo, deixam de desejar, de sentir, de exprimir e então de existir. Uma perversa e continua aniquilação de subjetividades.