O Homem e as Ideias

Autor: Hugo Ribeiro


Cadastrado em 01/06/2020
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Data: 2020
Tipo de obra: Fotografia
Técnica: Colagem digital. Montagem.
Dimensões: Localização: Acervo pessoal
Cor primária: Cor secundária: Descrição: O Homem e as Ideias – Beethoven: 250 anos – Parte 1

Em dezembro de 1770, na cidade de Bonn, quando da eclosão de transformações sociais e políticas por toda a Europa, nascia o compositor que marcaria a transição do classicismo para o romantismo na música, quando da ascensão da burguesia sobre a aristocracia: Ludwig van Beethoven.

Cumprindo a processualidade do desenvolvimento histórico, sucedendo Vivaldi e Bach, Beethoven é o primeiro grande romântico onde “vamos encontrar o espírito dionísico realmente liberto, numa exaltação que vai encontrar o seu auge na Nona Sinfonia, obra na qual os elementos literários e teatrais da música de Beethoven se tornarão tão violentos que ele sentiu necessidade de recorrer às palavras para expressá-los” (Ariano Suassuna, Iniciação à Estética, 1972).

O racionalismo que guiara a produção artística até então dava lugar ao sentimento, à expressão, à paixão. Na literatura alemã, o movimento foi conhecido como “Sturm und Drang” (Tempestade e Ímpeto), com nomes como Herder, Goethe, Schiller e outros: o Romantismo Alemão. Evidentemente não se trata de fechar cada artista dentro de uma categoria ou conceito, mas olhar a tendência que perpassa por todos eles – há muita discussão sobre isso e não tenho conhecimento suficiente para nenhuma afirmação peremptória; se é que isso é possível.

O imbricamento das duas artes, música e literatura, duas partes dentro do todo, isto é, as transformações sociais havidas pela subsunção da estrutura feudal pela burguesia, pode ser depreendida pela utilização de “Ode an die Freude” (Ode à Alegria) de F. Schiller no quarto movimento da Sinfonia n.° 9 – por certo, você que me lê deve lembrar de quando o coral, junto de toda a orquestra, canta a melodiosa poesia:

 Deine Zauber binden wieder
Was die Mode streng geteilt;
Alle Menschen werden Brüder,
Wo dein sanfter Flügel weilt. » (Teus encantos unem novamente
O que o rigor do costume separou.
Todos os homens se irmanam
Onde pairar teu vôo suave.)


O Homem e as Ideias – Beethoven: 250 anos – Parte 2

O romantismo, no plano superestrutural, é o reflexo da transformação da sociedade no plano estrutural: a subjetividade da forma expositiva da burguesia é, outrossim, resultado de um processo.

Decadência das guildas. As artes vão se libertando das amarras das leis dos ofícios. Os artistas passam a utilizar a perspectiva nas obras, opondo-se à bidimensionalidade da pintura medieval. Os artistas passaram a escolher os seus motivos. Michelangelo grava seu nome nas vestes da Virgem Maria que segura o corpo do seu filho. A música deixa de ter finalidade exclusivamente sacra. Tudo isso num contexto de limitação dos poderes soberanos, de reivindicação por liberdades individuais*, do avanço da ciência, das Grandes Navegações etc.** O Homem voltava a ser o centro do mundo. Então Kant, rompendo com a tradição filosófica, em sua “Revolução Copernicana”, afirma que todo conhecimento é criado pelo Homem através da sua estrutura racional inata pela qual se relaciona com o mundo por meio dos sentidos. Não conhecemos o mundo (noumenon), mas só conhecemos os nossos conhecimentos (phainoumenon). Assim, tudo que conhecemos é subjetivo!

Estava criada a base para a forma jurídica moderna, para a arte moderna e contemporânea, para Goethe romancear o seu mundo passional, para Beethoven exprimir seus sentimentos em notas musicais. (Me perdoem a simplificação de um período excessivamente complexo)

*Devemos ter muito cuidado com essa narrativa, pois, enquanto se teorizava que o homem naturalmente nascia livre e igual (Hoobes, Locke, Rousseau), na Europa, em África os mesmo europeus atrozmente escravizavam o povo preto.

**Não entrarei no mérito dos reveses, como o “Concilio de trento”, a criação das Escolas de Belas-Artes etc. Fato é que a subjetividade nunca mais deixou as Artes.


O Homem e as Ideias – Beethoven: 250 anos – Parte 3

No mesmo ano que Kant apresentou sua “De mundis sensibilis atque intelligibilis forma et principii” (Sobre a forma e os princípios do mundo sensível e do mundo inteligível) para a cátedra de Lógica e Metafísica da Universidade de Königsberg, dois lindos bebês estavam nascendo: Hegel e Beethoven – 5 anos antes de Schilling e 8 anos depois de Fichte, outros nomes que definirão o “Idealismo Alemão”.

Um dos temas abordados por todos esses autores será a estética: Kant falara da subjetividade do juízo estético; Hegel da superioridade da obra de arte enquanto espírito que deriva do espírito; Schilling escreverá “Filosofia da Arte”; Fichte concluirá que a “essência de Deus é a beleza”. Esse era cenário do período em quem Beethoven viveu, era o contexto da Alemanha que, ainda que não fosse o país mais desenvolvido da Europa, posição essa disputada pela França e pela Inglaterra, com alguma certeza, era o país mais avançado intelectualmente.

O Idealismo Alemão influenciou nomes como F. Nietzsche, A. Schopenhauer etc.: Hegel, mais especificamente, influenciou os dois grandes pensadores que iriam mudar, não só a filosofia, como a Economia Política, a Sociologia: Karl Marx e F. Engels que, como diria Lenin, inverteria Hegel de cabeça para baixo: não é o espírito que cria o ser, mas o ser que cria o espírito: são as relações socioeconômicas que criam as mentalidades, as religiões, a moral, a ética etc.


Foi o desenvolvimento econômico que evidenciou a obsolescência da sociedade feudal, que criou a burguesia e ensejou a inspiração por uma nova sociedade. As forças produtivas atuais já são infinitamente superiores àquelas, não há dúvida que o capitalismo é uma doença que precisa ser combatida, o proletariado já surgiu como nova classe dominante, resta concluirmos o processo da nossa etapa histórica.

« Froh, wie seine Sonnen fliegen
Durch des Himmels prächt’gen Plan,
Laufet, Brüder, eure Bahn,
Freudig, wie ein Held zum Siegen. »
(Alegres, como voam seus sóis
Através da esplêndida abóbada celeste
Sigam irmãos sua rota
Gozosos como o herói para a vitória)
 

Fotos da obra

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