Mestre em Artes Visuais pela UNAM (México), com formação multidisciplinar, em Relações Internacionais (UFRJ) e em Produção Cultural (IFRJ) – área na qual é especialista (lato sensu) em Literatura Infanto-Juvenil. Como artista visual foi bolsista dos programas Fundamentação e Concepção na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (Rio de Janeiro).
Seu trabalho artístico é fruto da confluência dos estudos culturais e das relações internacionais e aborda os choques interculturais dentro de uma perspectiva decolonial que faz uso da linguagem verbal e da oralidade para referenciar as regiões representadas em suas obras.
Declaração de Artista:
"Meu trabalho se insere na arte contemporânea, com características absolutamente pós-modernas. Há quem possa defender que todo artista conhece seu conteúdo e o que causa em sua obra. Eu vejo isso como uma utopia. É possível supor, mas mas jamais assegurar-se de quais efeitos serão provocados, mesmo que o artista use técnicas de cores e saiba trabalhar com retórica. Eu sou um artista politizado, e não um político “artistizado” com poder real para mudar coisas ou tomar decisões que influenciam populações inteiras.
O projecto Soft Power reúne preocupações pessoais, em que o interesse pela dimensão visualização da escrita, interesse por outras culturas mundiais, meus estudos no campo das relações internacionais e minha estima pelas artes visuais em sentido geral. Tudo isso do ponto de vista do papel que a arte e a cultura desempenham na globalização.
A arte, mesmo a mais tradicional, deve estar conectada ao seu entorno. “A arte global não é apenas policêntrica como prática, mas requer um discurso polifônico; e enquanto a história da arte visa dividir o mundo, ao contrário, a arte global tenta restaurar sua unidade em outro nível ”(GUASCH, 2016: 52). O artista deve estar aberto à interdisciplinaridade, partindo da filosofia, da antropologia, da comunicação social e também das ciências exatas, como a matemática, a física e a química. Analisar um trabalho requer contextualização.
Tudo começa com um relato. Na execução dos meus projetos realizo diversas entrevistas. Falar com o outro é, para mim, mais importante do que falar ao outro, por mais que o conceito de soft power se baseie em influenciar o outro por meio de discursos quase subliminares. Meu processo não tem uma linearidade constante.
Os processos de entrevista visam a criar mais material, sem nunca, no entanto, encerrar a discussão. É por isso que vejo que no meu projeto um quadro finalizado e exposto é só o meio do caminho, não o ponto de chegada. O acúmulo de material, físico ou não, é meu pretexto para continuar produzindo, é meu anseio. Passo por um processo quase obsessivo de absorver informações, e posso me considerar um "maníaco por acumulação" de informações.
O “mosaico de palavras” presente em minhas obras reflete isso. Não se pode analisar cada palavra individualmente, nem em relação às outras, porque normalmente não as hierarquizo. É como um retrato sem explicações, cada espectador tira dele o que lhe é familiar ou estranho (minha intenção é que algo simbólico golpeie algo real no receptor). O que eu faço é confrentar o banal - que pode brevemente ser esquecido e não fazer sentido para as gerações futuras, pois a fama que surge instantaneamente também se dilui quase na mesma velocidade - ao intrínseco, formando um raro mosaico que retrata aquele país no momento em que o estou analisando. Eu coloco em xeque a capacidade da pintura de promover os discursos dos povos que ela tenta representar e de criar debates públicos que possam desafiar ideias pré-estabelecidas.
Assim como a "linguagem oráculo" da interpretação psicanalítica, não dou informações, mas forneço ferramentas para que interpretem. E sei da impossibilidade de meu trabalho ser “de compreensão universal”. Portanto, o que eu digo sobre cada país não é verdade (como posso saber se meus entrevistados não estão mentindo?). A interpretação não avalia ou verifica a verdade, ela desata a verdade. A essência da comunicação é o mal-entendido. Parte do trabalho psicanalítico é aprender a viver dentro dos limites do nosso conhecimento e é assim que assumo no meu trabalho.
Além do Soft Power, meus outros projetos estão relacionados ao entorno imediato de um mundo globalizado, com temas que estão em pauta na agenda internacional, como o etnocídio, a indústria bélica, os direitos humanos, a acessibilidade física e intelectual, as sexualidades divergentes e identidades divergentes da heteronormatividade e, mais recentemente, as privações de relações físicas e afetivas que todos nós vimos experimentando durante a pandemia."